As mudanças no urbanismo inadiáveis


A situação pandémica que temos vindo a vivenciar ao longo dos últimos meses colocaram em evidência fragilidades do chamado urbanismo moderno que organizou a vida nas cidades ao longo de várias e longas décadas, em particular no mundo dito desenvolvido. A insustentabilidade, as desigualdades territoriais, as concentrações excessivas, a poluição, são as grandes fragilidades hoje notada por todos quando observamos a vivencia numa metrópole dita “normal”.
Arquitetos como Norman Foster (Pritzker de Arquitetura), são dos que acreditam que a pandemia acelerou processos já em discussão nos últimos anos, que defendem novos estilos de vida, novas urbes e novas formas de habitar. Inclusive vislumbra a existência de menos automóveis, e com esta redução menos vias rodoviárias, menos estacionamentos e mais espaço para os peões e ciclistas, defendendo assim uma maior mobilidade sem a dependência do automóvel.
Outros colegas arquitetos também tem vindo a defender mudanças, sugerindo uma maior presença da natureza, nomeadamente das coberturas verdes, grandes promenades com grandes áreas verdes e grandes árvores, reforçando assim a qualidade ambiental e do ar que respiramos, com repercussões na qualidade de vida.

As imprescindíveis mudanças que se impõem no urbanismo tem necessariamente consequências ambientais, também elas, desejáveis e a muito reclamadas. São uma oportunidade face as necessidades hoje em evidência, mas sobretudo um ganho individual e coletivo que devemos garantir, quando em termos políticos estas questões passaram a ser consensuais e deixaram de ter um falso pendor ideológico que artificialmente acabou por dividir e atrasar o que todos certamente já viam como necessário alterar.
As “Smart Cities” e o chamado “Urbanismo Tático”, interessantes quanto aos objetivos que pretendem alcançar, apontam caminhos e propostas que o urbanismo pós pandemia deve considerar. Analises mais ou menos holísticas ao desenvolvimento das cidades são importantes como pontos de partida, do qual se pode introduzir melhorias nas cidades. As cidades inteligentes devem introduzir infraestruturas mais humanas, mais amigas do ambiente e onde a tecnologia, nomeadamente as baseadas em SIG (Sistemas de Informação Geográfica), devem também estar ao serviço destas, fornecendo informação e tratando dados necessários a tomada de decisão que permitam de entre várias situações, corrigir as desigualdades territoriais existentes, nomeadamente entre os centros e as periferias, focos de enorme preocupação social e inclusive sanitário. O fomento do policentrismo é igualmente importante para promover a coesão sócio territorial, mas também para contrariar o despovoamento e para fazer crescer de forma equilibrada pequenas cidades ou vilas, que se podem também socorrer deste conceito das cidades inteligentes para promover o seu desenvolvimento equilibrado e sustentável.
Aproveitar as medidas consideradas como transitórias e táticas para reformular espaços públicos e / ou partes das nossas urbes é também sensato e necessário. Estas medidas ditas transitórias serviram um determinado propósito, num determinado espaço de tempo, mas também podem ser úteis para avaliar necessidades futuras e constrangimentos que importa corrigir e melhorar. O tempo para as efetivar é agora, certamente haverá maiores consensos e facilmente se conseguirá justificar estes investimentos.
Tudo isto também implica um olhar diferente em relação as áreas rurais e em particular sobre o ordenamento e gestão de todo o território. É importante promover uma consciencialização cada vez mais crescente na necessidade de preservação e exploração racional dos recursos naturais, promovendo obrigatoriamente e sempre que possível a regeneração. Mais uma vez temos de abandonar visões ideológicas e radicalizantes, tendo sim, uma visão pragmática e sustentada do território. É fundamental defender a biodiversidade local, à eco economia e o turismo baseado no “primado humano e da ecologia”, como defende e bem a arquiteta paisagista Elsa Severino. Devemos olhar para o que de bom se faz por este mundo e adaptar as nossas realidades e contextos. Aproveitar o conhecimento científico é essencial e deve sustentar futuros investimentos públicos e privados, pois a democratização da ciência, se acredita poderá ser fundamental para o sucesso das mudanças que se impõem, cada vez mais comprometidas com o ambiente, hoje a chave do futuro e da sustentabilidade do nosso planeta.

Bibliografia:

https://paisajetransversal.org/2020/05/el-urbanismo-tiempos-coronavirus-covid-19-desescalada-propuestas-ciudad/
https://sol.sapo.pt/artigo/696938/pos-pandemia-do-coronavirus-covid-19-o-regresso-a-ecologia-o-grande-desafio-do-sec-xxi

Foto: RR - Zona Turística vista da Ponte do Ribeiro Seco, Funchal.

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